Com uma história que inclui títulos mundiais, feitos históricos e o maior jogador de todos os tempos, o Santos FC vive hoje uma crise sem precedentes. Sua ausência no novo Mundial de Clubes revela mais do que critérios técnicos: expõe a desconexão entre passado glorioso e presente instável.
Por Rodolfo Varela
Santista de Coração
O Santos Futebol Clube é um dos poucos clubes no mundo que podem dizer, com orgulho, que pararam uma guerra. Literalmente. Em 1969, durante a Guerra de Biafra, na Nigéria, o governo local decretou um cessar-fogo temporário para que civis e soldados pudessem assistir a uma partida do time santista — então em excursão internacional com Pelé e companhia. O feito, que parece roteiro de cinema, é apenas um dos muitos episódios épicos da história alvinegra.
Mesmo assim, o Santos está fora do novo formato do Mundial de Clubes da FIFA, que será realizado em 2025 nos Estados Unidos. A lista inclui clubes sem títulos mundiais, enquanto o Peixe, primeiro clube brasileiro a conquistar o mundo (1962 e 1963), sequer foi cogitado.
Reconhecido pela própria FIFA
A FIFA reconhece oficialmente o Santos como bicampeão mundial ao vencer o Benfica (1962) e o Milan (1963) nas antigas Copas Intercontinentais — embriões do atual Mundial. Na época, o Peixe dominava todos os gramados com Pelé, Coutinho, Pepe, Gilmar e Zito.
Foi também em 1962 que o Santos realizou uma façanha quase inalcançável: venceu o Campeonato Paulista, a Taça Brasil, a Copa Libertadores e a Copa Intercontinental. Ou seja: foi campeão estadual, nacional, continental e mundial no mesmo ano. É o tipo de feito que deveria garantir lugar cativo em qualquer Mundial, seja qual for o formato.
Expulsar Pelé? Nem pensar.
Outro episódio que mostra a magnitude do Santos ocorreu em 1968, quando um juiz colombiano, Guillermo Velásquez, ousou expulsar Pelé em um amistoso contra o Millionarios. A torcida invadiu o campo em protesto e, diante da comoção, o árbitro foi substituído por um outro… e Pelé voltou ao jogo. Esse tipo de reverência não se compra — se conquista.
A força internacional do Santos
Poucos clubes brasileiros têm a história internacional que o Santos construiu. O clube foi o primeiro a marcar 10 mil gols e ajudou a popularizar o futebol brasileiro em países que sequer sabiam o que era a Seleção Canarinho. O Santos era, para muitos, o Brasil no exterior.
Mesmo após a era Pelé, o clube revelou novos craques e conquistou títulos importantes, como o Campeonato Brasileiro de 2002 com Diego e Robinho, e a Copa Libertadores de 2011, com Neymar, Ganso e Elano.
Por que ficou de fora?
A resposta é dura, mas objetiva: critérios recentes de desempenho esportivo. O novo Mundial da FIFA baseia-se nos resultados da Copa Libertadores dos últimos anos. Como o Santos não chegou às fases finais, ficou fora. Ponto.
Mas isso não explica tudo. Clubes que nunca foram campeões mundiais foram incluídos por outros critérios — como marketing, representatividade e visibilidade. E é aí que entra a grande decepção.
Crise fora de campo
O Santos vive hoje uma realidade oposta ao seu passado. Após anos de má gestão, escândalos administrativos e decisões técnicas controversas, o clube foi rebaixado pela primeira vez em 2023. O elenco atual carece de qualidade, e o comando técnico tem sido criticado por falta de experiência e resultados.
Reflexão de um torcedor
Como publicitário e santista, escrevo este artigo com o coração apertado. Cresci ouvindo sobre as façanhas do Santos, vibrando com os gols de Neymar, sonhando com o tempo de Pelé. Ver o clube esquecido num evento global da FIFA é doloroso — mas, talvez, necessário. Que seja um alerta.
Porque o mundo não esqueceu o Santos. Mas se o próprio Santos esquecer quem ele é, não haverá Mundial que resolva.
Fontes e referências:
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Santos FC – História oficial
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FIFA – Club World Champions Archive
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Wikipedia – História do Santos FC
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