Por Rodolfo Varela
Em tempos de manipulações históricas e discursos vazios sobre democracia e liberdade, é raro encontrar vozes que se mantêm lúcidas, críticas e profundamente respeitosas com a verdade. Uma dessas vozes é a do jornalista e comentarista Claudio Scaff Zaidan, profissional consagrado do Grupo Bandeirantes de Comunicação, múltiplo vencedor do Troféu ACEESP entre 2014 e 2023. Com seu estilo direto, ético e inteligente, Zaidan tem se destacado não apenas no jornalismo esportivo, mas também nos comentários políticos que oferece nas tardes da Rádio Bandeirantes.

Ontem, Zaidan fez um comentário corajoso e preciso sobre o presidente Salvador Allende, o legítimo chefe de Estado do Chile que foi brutalmente derrubado e assassinado no golpe militar de 11 de setembro de 1973. Poucos jornalistas se atrevem a dizer com todas as letras o que os documentos e testemunhos já confirmaram: Allende não se suicidou. Foi assassinado pela ditadura sangrenta e nefasta de Augusto Pinochet.
Eu posso afirmar isso com a autoridade de quem viveu aquele dia terrível. Trabalhava, naquela manhã de 11 de setembro, na histórica Rádio Corporación CB 114, onde transmitimos ao vivo o primeiro pronunciamento do presidente Allende diante do levante militar. Na época, eu era diretor da rede de emissoras do norte do Chile. Vi, ouvi e senti a tragédia que se abatia sobre meu país. Ninguém pode me contar essa história — eu sou parte dela.
Quero deixar claro que não conheço Claudio Zaidan pessoalmente, mas o escuto diariamente e o admiro profundamente pela sua firmeza e honestidade intelectual. Parabenizo esse grande jornalista não só pela lembrança honesta de Salvador Allende, mas pela clareza ao afirmar que nem o Brasil, nem o Chile podem se transformar em uma nova Venezuela. São países com enorme potencial, riquezas naturais abundantes e um povo trabalhador. O que falta — e sempre faltou — é vontade política e diplomática para romper com a dependência histórica dos interesses norte-americanos e construir uma integração regional autêntica e soberana.
É verdade que os Estados Unidos precisam da América Latina tanto quanto a América Latina precisa dos Estados Unidos. Mas o que não se pode aceitar são essas reuniões populistas promovidas por certos governos latino-americanos — como vimos recentemente no Chile — falando em “democracia” e “liberdade de expressão” enquanto escondem suas enormes dívidas históricas com seus próprios povos.
O Chile é um caso emblemático. A democracia chilena ainda está em débito com:
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os presos políticos que passaram anos encarcerados e esquecidos;
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os exonerados políticos, que perderam seus trabalhos e meios de subsistência;
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os torturados e desaparecidos, cuja memória insiste em resistir ao silêncio;
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e as crianças sequestradas, vendidas a famílias estrangeiras com a cumplicidade de setores políticos, judiciais e religiosos.
Como podem estes mesmos setores hoje discursar sobre liberdade e direitos humanos, quando ainda não foram capazes de reparar as vítimas da ditadura?

A fala de Claudio Zaidan, ao resgatar a verdade sobre Salvador Allende, nos lembra que a história não pode ser enterrada sob conveniências ideológicas. E nos alerta que a democracia se constrói com memória, justiça e coragem. Coisas que ele, como jornalista íntegro, demonstra ter de sobra.
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